domingo, 27 de janeiro de 2008

As irmãs Ortigão


Da minha nova janela, para além das silhuetas da parte sul da cidade, dá para pousar o olhar sobre um edifício curioso. Arquitectura moderna, anos cinquenta, um prédio assim dá vontade de conhecer. Aproveitei um dia ao passar, e ao ver o portão a abrir consegui espreitar para dentro e vislumbrar um jardim de camélias e vegetação frondosa, o que convenhamos, é visão que escasseia na Invicta. Hoje enchi-me de coragem e fui explorar o espaço. À entrada reparei no cartaz discreto que avisava: Casa Museu Marta Ortigão Sampaio. Uma breve troca de impressões foi o suficiente para uma visita guiada previlegiada, com direito a dissertações e conversa sobre a história privada do Porto, a burguesia e as suas contradições, e considerações laterais sobre a incompetência dos responsáveis políticos e o risco verdadeiro da degradação do património cultural sobre o qual uma inteira identidade urbana se desenhou. Agora, para além da visita, já tenho onde passear os livros sempre que o Sol pedir. Afinal, é só atravessar a rua e regressar ao jardim, gloriosamente abandonado pela cidade. Do interessantíssimo espólio do museu, os destaques pessoais vão para os óleos deslumbrantes de Carlos Reis e da mais famosa das seis irmãs Ortigão: Aurélia de Sousa (já agora, as visitas são gratuitas aos fins de semana).