sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Morder-te o coração
Com este título, Patrícia Reis designa um corpo de trabalho em prosa apaixonada, num registo frequentemente próximo de uma poesia livre de espartilhos, mas sem devaneios formalistas: aqui vai-se direito ao assunto, e os personagens são o que a história lhes dita, ainda que o próprio leitor pouco fique a saber sobre a sequência de acontecimentos propriamente dita. Há algo que me agrada em tudo aquilo, como se só pudesse ser escrito por alguém que maltratou o coração, sobreviveu, e encontrou o tom certo para descrever a experiência. Era o próximo livro a ser 'conversado' na comunidade de leitores aqui ao lado, mas a revanche das amígdalas deixou-me de novo a braços com três dias de febre, suor e drogas.
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Aforismos sobre a visão
Tudo o que vemos são formas de olhar.
O contorno é que policia a visão.
O esboço é um olhar que não quer acabar.
Cegar é ceder à visão.
Proposto aqui.
O contorno é que policia a visão.
O esboço é um olhar que não quer acabar.
Cegar é ceder à visão.
Proposto aqui.
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Do baú
o sol repousa na nossa nudez
e o teu sorriso
sobre as missangas italianas
tudo neste momento nos empurra para a luz
e aquece esta casa que nos habita
não abras nenhuma janela
o meu choro pode querer voar
e espraiar-se sobre a cidade
não abras a boca
que somos este gesto silencioso e contínuo
atravessa comigo a dor
e apaga o meu rasto
quero-me perder outra vez
se a tristeza nos chamar
estamos ocupados a escolher o futuro
Julho de 2005
e o teu sorriso
sobre as missangas italianas
tudo neste momento nos empurra para a luz
e aquece esta casa que nos habita
não abras nenhuma janela
o meu choro pode querer voar
e espraiar-se sobre a cidade
não abras a boca
que somos este gesto silencioso e contínuo
atravessa comigo a dor
e apaga o meu rasto
quero-me perder outra vez
se a tristeza nos chamar
estamos ocupados a escolher o futuro
Julho de 2005
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Under Capricorn, de Alfred Hitchcock
Mesmo aos grandes mestres não são perdoados desvios. Aparentemente, este belo melodrama de época, feito de um ritmo lento e longos planos-sequência, uma peça de câmara sem grandes arrojos formais, não terá sido bem recebido por um público habituado ao estilo suspense/intriga de A.Hitchcock. Mas é bom vê-lo com os olhos de hoje, sem preconceitos, e deslumbrar com a ebulição daquelas almas em confronto.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
À espera no centeio, de J.D.Salinger
Há uma passagem engraçada neste livro, quando o protagonista imagina como projecto pessoal, para um futuro que não se adivinha promissor (é um adolescente expulso do colégio e que deambula pela cidade antes de decidir o regresso a casa), ser um jogador numa situação imaginária: ele seria o que estaria escondido no centeio junto ao precipício, à espera dos desafortunados que correm para o abismo para acabar com a sua vida. Como se nos dissesse, o autor, que só conseguimos viver nesse interstício, entre um ideal altruísta e a nossa compulsão para a destruição.
domingo, 18 de outubro de 2009
Pernas para que te quero II
E foi assim, sempre junto à beira-rio, numa hora, quarenta e sete minutos e cinquenta e três segundos, que acabei a minha primeira meia maratona. Estranhamente, com vontade de repetir a experiência (assim que passe esta sensação de atropelo no corpo). A alma? Lavadinha!
sábado, 17 de outubro de 2009
Pernas para que te quero
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Cândido versão táctil
"(...) Conegundes, de dezassete anos, era corada, fresca, gorda, apetitosa. O filho do barão parecia em tudo digno do pai. O perceptor Pangloss era o oráculo da casa e o pequeno Cândido escutava-lhe as lições com a toda a boa-fé da sua idade e do seu carácter." Todos se encontravam, arrepanhados de frio, na áspera rugosidade do salão, arranhando-se discretamente entre si.
Exercício-proposta no âmbito dos Cinco(Mil)Sentidos
terça-feira, 13 de outubro de 2009
A hermenêutica proletária
v.h.m por Nélson d'Aires
E se repente, pensei eu, decidisse experimentar um novo autor português? Para estas coisas basta uma linha que alguém deixa escrita a dizer, por exemplo, 'já só consigo pensar no próximo livro do Valter Hugo Mãe'. E assim foi, com esta linha na mão, e o apelo de um título - "O apocalipse dos trabalhadores", que me lancei numa viagem deslumbrante por uma escrita fresca e terra-a-terra como já não via há muito. Todos julgamos conhecer estas mulher-a-dias, carpideiras e trolhas ucranianos. Mas afinal não, e todas as paixões do mundo terreno e do além respiram nas suas almas e corpos feitos palavras. Digeri o livro, e depois, como que à espera do próximo pitéu, inscrevi-me numa comunidade de leitores aqui mesmo ao lado, na biblioteca municipal. De quinze em quinze dias, parece que há uma confraria que se reune lá para degustar em conjunto uma iguaria da nova literatura portuguesa. Também parece que (e ainda bem) se podem correr vários riscos...
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
terça-feira, 6 de outubro de 2009
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
O Raio Verde, de Jules Verne
Em 1882, quando a obra foi editada, duas visões do mundo opostas degladiavam-se para conquistar a predominância: de um lado, o positivismo racionalista, a crença no poder explicativo da lógica e dos teoremas matemáticos; por outro, o romantismo apaixonado, o olhar dos artistas, da poesia e dos fantasmas. Neste pequeno romance, à sombra dos imensamente mais célebres "Viagem ao centro da Terra" ou "As vinte mil léguas submarinas", dois personagens encarnam, cada um, as mundividências contrastantes. Caberá à protagonista, uma heroína curiosa e destemida, a escolha amorosa que designa também a identificação do imaginativo autor. O livro, esse foi descoberto numa simpática feira de antiguidades e velharias em Aveiro, numa dessas escapadelas com que tentamos combater a neura dominical.
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