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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Ler poesia

Num poema uma palavra pode valer mais do que mil imagens. Ele parece existir para as condensar, como se fosse a exalação de estar no mundo. Os poetas nunca dariam bons governantes, mas se os lêssemos mais talvez nem precisássemos de governação. Recomendam-se duas edições recentes, dos meus queridos Miguel e Renata, cujo verbo é cada vez mais depurado e pertinente.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Poema



Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas do próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem

Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca


Mário Cesariny (com 'ilustração' minha)

terça-feira, 20 de abril de 2010

Dois poemas de Luís Miguel Nava (1957-1995)

Rapaz

Não sei como é possível falar desse
rapaz pelo interior
de cuja pele o sol surge antes do o fazer no céu.


Crepúsculo

Ao sol começa a faltar lenha, a rua
por onde agora eu sigo
vai só até onde a memória a conseguir abrir


in Luís Miguel Nava - Poesia Completa 1979-1994, publicações Dom Quixote (2002)



Duas pequenas pérolas de uma poesia brilhante e repleta de imagens inquietantes, como se pede à escrita. É uma edição que talvez só se encontre a pedido, numa daquelas livrarias onde não se aborrecem muito por aceder aos nossos caprichos. E que melhor homenagem a Nava do que a leitura?

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Poesia ilustrada #2


guardas a chuva
na concha da mão

colo de águas
daninhas

onde bebo
a nostalgia das marés.


in Um Circo no Nevoeiro, de Renata Correia Botelho, ilustração de Luís Manuel Gaspar (Averno, 2009)

Poesia ilustrada #1


in Oráculos de Cabeceira, de Rui Pires Cabral, ilustração de Daniela Gomes (Averno, 2009)

sábado, 26 de setembro de 2009

Palavras roubadas #2

Io vivere vorrei addormentato
entro il dolce rumore della vita.


Sandro Penna

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Letras roubadas #1

(...)
nothing which we are to perceive in this world equals
the power of your intense fragility: whose texture
compels me with the colour of its countries,
rendering death and forever with each breathing

(i do not know what it is about you that closes
and opens; only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody, not even the rain, has such small hands

e.e. cummings