segunda-feira, 28 de julho de 2008

Melancholic babies

quarta-feira, 23 de julho de 2008

A cultura de Arnaldo Antunes


No mesmo dia em que Caetano Veloso acerta o violão numa praça de Aveiro, opto por Arnaldo Antunes num concerto tripeiro. É o meu terceiro encontro com o ex-Titãs, e dele ainda só espero surpresas. Fica o aviso que o investimento no bilhete pode resultar numa chuva de preciosidades como esta letra:

Cultura
O girino é o peixinho do sapo
O silêncio é o começo do papo
O bigode é a antena do gato
O cavalo é pasto do carrapato
O cabrito é o cordeiro da cabra
O pescoço é a barriga da cobra
O leitão é um porquinho mais novo
A galinha é um pouquinho do ovo
O desejo é o começo do corpo
Engordar é a tarefa do porco
A cegonha é a girafa do ganso
O cachorro é um lobo mais manso
O escuro é a metade da zebra
As raízes são as veias da seiva
O camelo é um cavalo sem sede
Tartaruga por dentro é parede
O potrinho é o bezerro da égua
A batalha é o começo da trégua
Papagaio é um dragão miniatura
Bactérias num meio é cultura

sábado, 19 de julho de 2008

Universidade júnior: o chapéu das perguntas*

Existe ejaculação feminina? Se sim, como funciona? Que actividades sexuais é que os homossexuais podem fazer? É mais fácil dar prazer ao homem ou à mulher? Após 3 anos de prática, é possível sair magoado(a) das relações sexuais? Ser homossexual contraria a fisionomia do ser humano? Já lidou com cenas de preconceitos? Se a vagina tem lábios, quer dizer que também tem dentes? 69, o que é?

* dinâmica que permite a apresentação de dúvidas anónimas, que são recolhidas e respondidas/debatidas em seguida.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Igreja em Noto, a vila barroca (Sicília)

O fio do olhar

Uma mulher dá à luz dois bebés e pasma quando vê que um é branco e outro é preto. O mundo pasma a olhar para a mulher pasmada a olhar para os dois bebés. Eu olho pasmado para o olhar pasmado do mundo, que pasma a olhar para a mulher pasmada. E o mundo fica pasmado com o meu olhar pasmado, que não alcança o porquê de tanto pasmar.

terça-feira, 15 de julho de 2008

September Song - Kurt Weill por Ian McCulloch

segunda-feira, 14 de julho de 2008

A arte dos sneakers

Novas sapatilhas estreadas hoje. As outras, com toda a poeira, suor e buracos acumulados ao longo de quase dois anos e algumas centenas de quilómetros, foram depositadas no lixo (ouvi algures que alguém andava a recolher sapatos usados para reciclar materiais mas não conheço nada que se pareça por cá). Experimento um novo percurso - a marginal do lado do Porto, agora perto de casa, partindo do Museu do Carro Eléctrico e contornando toda a foz até chegar ao Parque da Cidade, de onde regressei ao ponto de partida. Mesmo quando a fadiga nos convence que calculamos mal a distância, lançando o corpo num desafio desconhecido, correr se calhar é essa necessidade de renovar o desejo por voltar a um lugar.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Em Palermo


Letra de ouvido e memória de "Sinto em Mim", dos Mler Ife Dada; detalhe de fonte no museu arqueológico de Palermo, Sicília.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O ano do pensamento mágico


Durante um ano, uma vida muda. Transmuda-se, como se, através de um oculto mecanismo de carrossel, as almas fossem trocando de corpos a cada sinal. Nesse movimento, as referências alteram-se. O mundo, observado de um outro ângulo, parece de início turvo, mas com o tempo torna-se claro e distinto. Para trás ficam destroços, pedaços de quem eramos. A rotação faz-nos ceder e procuramos refúgios. E a vida é retomada. Joan Didion viu o companheiro de quarenta anos falecer à sua frente. Durante um ano, agarrou-se através da escrita à desorientação da sua perda. O resultado é um livro. Decidiu chamar-lhe o ano do pensamento mágico, porque durante esse tempo suspendeu-se sobre a realidade, revivendo de forma elíptica o fatídico acontecimento. Lemos e pensamos sobre como se sobrevive quando o sentido da vida desaparece dentro de um saco preto, numa gaveta fria e anónima de uma morgue hospitalar. Pensar assim pode ser uma forma de fazer refresh na nossa colecção de metas e princípios pessoais.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Sicília #2: Noto, Siracusa, Naxos, Messina, Cefalù...

À espera, no aeroporto de Stansted

domingo, 6 de julho de 2008

Gomorra é aqui!


Lido durante o périplo siciliano, "Gomorra", o celebrado ensaio de Roberto Saviano sobre a mafia napolitana é um desconcertante exercício de demonstração da matemática implacável do poder. A corrupção e a violência (desmesurada, negra como um inferno profundo) emergem no retrato das actividades dos protagonistas, mas talvez o mais perturbador seja perceber como essa lógica anda de braços dados com a encenação da normalidade quotidiana, em todas as camadas do tecido social local (e não só). Por esta obra, híbrida porque apaixonada e pessoal, Saviano ficou com a cabeça a prémio.
Na foto (retirada daqui): a imagem do escritor numa perede napolitana. Por cima da imagem, a frase "ouve o apelo" ("ascolta il richiamo").

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Uni(di)versidades júniores?


Respondendo ao repto lançado por uma ex-professora de faculdade (tem o seu quê de bizarro descobrir que existe esse link na minha vida...), estive ontem com um grupo de teenagers (dos quase 15 aos quase 18, como gostam de se apresentar), para uma sessão ao ar livre sobre sexualidade, cortesia da programação organizada pelo núcleo de Sociologia para a Universidade Júnior. A disparidade de idades (significativa naquela faixa) não ajudou, assim como a diversidade de motivações (alguns foram nitidamente despachados pelas famílias, que não sabem o que fazer com tantas férias), mas lá se conseguiu mobilizar alguma conversa, mais ou menos envergonhada, e mais ou menos descarada. Quando ainda faltam mais três rondas, vou-me interrogando sobre a pertinência da coisa, vagamente esperançado enquanto saco supresas da cartola para combater a anestesia da jovem audiência e cozo voluntariamente os miolos ao Sol.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Sicília # 1: Palermo

Tudo o que é bom tem um fim. Verdade dramática e incontornável. Não reconheceríamos como coisas boas aquilo que nos é cruelmente negado com o regresso à labuta se as tivessemos constantemente disponíveis. Assim, restam-nos as fotografias, as convencionais e as mentais. Para mais tarde reviver.