segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Histórias da cidade do Porto

Como com frequência me apercebo, por contacto profissional, é nos relatos autobiográficos que podemos tomar contacto de forma mais completa com a diversidade de experiências sociais, culturais, políticas, económicas, enfim, humanas, que compõem a história de uma cidade. É nesses momentos, também, que dou conta com espanto da vastidão do património de conhecimento que desaparece cada vez que cada pessoa morre. Por isso me parece tão fundamental escrever, registar, traduzir memórias pessoais. Porque só esse ponto de vista tão individual, inserido numa polifonia de vozes biográficas, poderá ser capaz de conceder verdade aos factos e transportar para o presente o nosso passado colectivo. Sobretudo quando ele se intersecta de forma tão directa com a nossa própria história.

sábado, 28 de agosto de 2010

Oficina #5

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Bora?

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Botas a caminho...




... na Serra da Boa Viagem (fotos daqui). É preciso madrugar, mas isso nunca custa se o dia nos reserva um passeio. Depois há o prazer de explorar sítios que nunca se conheceriam doutra forma, moldados que estamos pelo mundo acessível por estradas. A caminhada terminou na praia, com a areia e a água fria a servir de massagem aos pés fatigados. Para arquivar no departamento das boas recordações.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

French fries

Num engarrafamento de Agosto, da neura domingueira nasceu em conversa com amigos esta ideia: não devíamos ter direito a ser ressarcidos por este desperdício de tempo? Algo como uma compensação depois do tempo regulamentar num jogo de futebol, todas as horas perdidas em filas de trânsito, somadas e devolvidas à nossa vida. "Ora portanto, o senhor Francisco devia ter falecido agora, mas como temos aqui um crédito de 2 anos e meio, vai ficar pela terra mais uns tempitos". Ideia pertinente mas perniciosa: a quem compete definir o que é o tempo desperdiçado quando a nossa própria vontade é tão volátil? Nunca vos aconteceu dourar o passado (mesmo as coisas que na altura não causaram qualquer frisson) ou maldizer uma experiência inofensiva cujo lado negro acabou por emergir anos depois? Não é um bocado aquela conversa do: "e se eu tivesse feito isto", "e se eu não me metesse naquilo", numa auto-ilusão de que qualquer caminho alternativo seria sempre mais bem sucedido, mais aproveitado, rumo à felicidade e à realização pessoal? A verdade é que esses caminhos são, como li algures, ramos secos que não voltam a medrar. E, como numa canção recente dos Arcade Fire, se pudéssemos reaver o tempo morto, íamos matá-lo de novo. Mas já repararam que as batatas fritas são sempre mais apetecíveis no prato do lado?

Antes de agora



Sem cabeça para mais nada do que mergulhar na urbano-depressão, com posinhos de nostalgia (para ouvir enquanto as nuvens não dispersam e não se vislumbra como aguentar outro dia de trabalho).

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Aonde a escrita nos levar

Há livros que se nota serem fruto de um simples e inegável prazer pela escrita. Imaginamos os autores a escapulir dos seus afazeres profissionais e domésticos para escrevinhar quase às escondidas algumas linhas, como quem pratica uma necessidade ou cede a um impulso. E chegam às mãos do leitor assim, sem grande apuro formal, investimento criativo, labor ou outras complexidades literárias. É só por perceber isso que não se desiste da leitura de um trabalho sem narrativa, história e de personagens que lutam pela sua própria existência enquanto tal. É nos interstícios da quase-história-que-nunca-chega-a-acontecer que surge o mais interessante que este livro oferece: pequenas reflexões sobre a condição da escrita, do escritor, da demiurgia e das pequeninas intersecções entre a vida e a arte.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Karaoke wisdom by Dolly Parton

Alma tuga

Andamos todos à procura de um lugar no céu. É isso que nos move neste portugalito moderno e antigo: a culpa, essa espécie de consciência adquirida à má fé. A verdade seja dita: só funcionamos à ameaça, seja ela de um pontapé, cachaço, lambada ou desgraça da alma. E não importa muito se somos crentes ou ateus, a matriz moral está lá, como uma tatuagem ou um tecido nervoso que nos baliza o quotidiano. E assim vamos, transitando de um objecto de culpa para outro: da infidelidade para a responsabilidade ecológica; da soberba para a participação cívica. Inventamos novos pecados: o trabalho infantil; o sexo desprotegido; a toxicodependência; o desperdício. E fugimos deles, não graças a uma clarividência ética ou pelo anseio de nos envolvermos num projecto de comunidade global, mas do muito humano e muito prosaico medo judaico-cristão de cair no inferno, tenha ele o formato que cada um lhe queira dar. Eu por mim, ainda assim, temo aqueles que nada temem, por me parecer que se eles tomarem conta disto, nada nos vai separar do abismo. E aquilo que era uma hipótese de país, deixa de o ser.

sábado, 7 de agosto de 2010

Oficina #4


Caracol, deus do Agosto.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

"Brooklyn", de Colm Tóibín

Madrugar tem destas vantagens: levantar, tomar o pequeno-almoço com toda a tranquilidade, preparar um café para degustação lenta, abrir um livro e ficar absorto até à hora do banho matinal. Sobretudo quando as palavras são manuseadas com a mestria deste autor irlandês, acreditamos que não há melhor maneira de começar o dia. Eilis é uma rapariga irlandesa cujo destino quis que emigrasse para outro continente, instalando-se de malas e projectos na cidade de Brooklyn. Como todos os desenraizados, ao fim de algum tempo a sua cabeça e o coração dilaceram-se entre dois mundos, o velho e novo. Quem já viveu fora de casa conhece o sabor dessa separação, que cria como que um duplicado de nós próprios, que a tempos emerge nem sempre no sítio certo. E Toibín confere uma tessitura fabulosa a este personagem (muito Jamesiano, como se tem comentado), transportando-nos para as suas emoções de uma forma tão simples que desarma. E conquista. (Já existe uma tradução portuguesa, editada pela Bertrand)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Ciao Vespa


É muito giro, é muito bonito... e é perfeitamente inútil. Desde que a comprei que a bela lambreta só me dá dores de cabeça: senão falha o motor é a embraiagem, senão é a manete das mudanças é o travão, senão é o depósito a verter gasolina é o raio que o parta. Cansei de ser deixado na estrada, de empurrar, de dar ao pedal, de gastar dinheiro, de ver a mota derrubada por automobilistas f.d.p., de tentar compreender o vocabulário obscuro da seita das oficinas e de aturar o tom zombeteiro dos mecânicos e de todo o mundo que faz questão em mandar bitaites sobre o assunto. A partir deste momento a dita está oficialmente à venda, pelo que interessados em encrencas procuram-se. Um dia, quando a neura passar e reconheça que uma cidade com a geografia do Porto (como a de Nápoles, em pavimentos e declives) casa na perfeição com um veículo motorizado de duas rodas, talvez considere cair de novo na esparrela. Até lá, arrivederci Vespa.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Oficina #3