sábado, 30 de maio de 2009

BD: work in progress...

Fã do SNS #2


Fita de triagem no Santos Silva. Atendimento irrepreensível.

Fã do SNS #1


No pequeno tempo de espera numa das novas Unidades de Saúde Familiar.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Sununtai!


Era uma vez um cão desesperado à procura de alguém na praia de Moledo. Pessoas juravam a pés juntos que tinham visto um homem a passear com o bicho e depois abandoná-lo à sua sorte, fugindo num automóvel topo de gama. Era uma vez uma senhora que reparou nisso e não arredou pé enquanto não percebesse o que se tinha passado. Tinha um sotaque engraçado e ar determinado. Era assim porque tinha vindo de outro país, para se instalar numa aldeia ali perto, juntamente com o marido, uma empresa de serviços de informática, alguns animais e várias plantas. Acabou por adoptar o cão. Baptizou-o de Sununtai, finlandês para Domingo, o dia da ocorrência. Um ano e meio depois, ao reencontrá-los, não consegui evitar pensar que a distância que o espectro humano consegue abraçar cabe na diferença entre aquele homem distinto e esta excêntrica senhora. Woof!

Mundo BD


A vontade de perceber um pouco mais do universo banda-desenhada leva-me à procura de lojas da especialidade. No Porto temos a (que eu julgava morta) loja "Mundo Fantasma". Entro discretamente e vasculho mas as primeiras impressões desiludem-me: só encontro Manga e super-heróis. De narrativas gráficas, ao estilo de um Matotti ou um Gipi, nada excepto um pequeno recanto. De autores tugas menos ainda, e fico a perceber porquê pela opinião do lojista (um tagarela-'cola', que me explica que o estilo BD-fado não faz parte das preferências da casa). Escolho pela pinta "Alguns dias com um mentiroso", uma história de Etienne Davodeau e tento descolar-me do vendedor (que se preparava para tirar a tarde para me revelar a sua opinião sobre a aquisição).
A oficina de BD com o Paulo vai já na recta final. Ainda não passamos da planificação da história para a execução, é um processo mais complexo do que poderia pensar à partida. Talvez precise de uma segunda edição para concretizar as pranchas...

The Swimming Pool Library


Um clássico da literatura gay, escrito nos idos anos 80, com acção na Londres ainda na ressaca de Thatcher, a que o autor regressaria no igualmente celebrado e conseguido "A linha da beleza". Uma narrativa com dois planos temporais que se cruzarão já no final, no desenlace de uma cadência narrativa perfeita. Através de um punhado de personagens cativantes, Hollinghurst urde um pequeno ensaio sobre a história da vida queer durante o século XX: os lugares, a perseguição, a violência, as dinâmicas afectivas e sexuais. E sim, tem algumas belíssimas passagens eróticas, daquelas capazes de fazer guinchar de dor um recém-circuncisado.

sábado, 23 de maio de 2009

Catarsis

Alela & Friends


Foi mesmo ontem, em Famalicão? Os dois terços de plateia vazia perdiam um belíssimo recital de câmara, com a voz e melodias encantadas de Alela Diane, o seu corte de cabelo e a sua simpática banda. Na mesma semana da aparição de Antony no Coliseu, mais uma visão que me fez acreditar que existe vida noutros planetas.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Grandes momentos de BD


in Trompe La Mort, de Alexandre Clérisse (Dargaud)

domingo, 17 de maio de 2009

Printemps a Espinhaço

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Democracia é...


... enfiarem-te numa ala hospitalar (serviço público, fique claro!), e quando te pedem para te despires e vestires aquele modelito verde que deixa o rabo de fora, sentires que o que deixaste dentro do cacifo foram estes 33 anos de papeis exemplares (o filho, o aluno, o formador, o activista, o amigo, o amante). Lá dentro somos de novo aquela pequena massa de vida carente, como no momento do primeiro grito fora do ventre.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Olhó pópó


Quem me conhece nem que seja apenas por alguns minutos sabe que um dos temas em que sou menos versado é o automóvel. Se me pedem preferências, escolho sempre os Minis ou os Fiat 600, versão clássica, e a minha memória selectiva não me deixa fixar outros nomes. Eram carros com a medida justa, cabia lá tudo o que devia caber duma família nuclear (incluindo a dose certa de peso corporal, numa altura em que se desconhecia o que era obesidade para além da clássica pança latina, e de consumíveis domésticos, numa era pré monstró-mercados). E eram bonitos e coloridos, sem este snobismo insuportável dos polidos cinzentos e linhas aerodinâmicas. Eram assumidamente anti-dinâmicos, porque a vida também não era esta montanha russa. Andavam ao nosso ritmo e estavam-se a borrifar para os complexos de pénis.

domingo, 10 de maio de 2009

Shostakovich ao meio-dia


Foi há umas 3 semanas, aqui ao lado, na Casa da Música (sem o Leonard Bernstein, mas enfim). Um grande auditório cheio de famílias e outras faunas. O palco estava repleto, afinal tratava-se de uma sinfonia! No concerto comentado, ficamos a saber algumas curiosidades acerca da peça, incluindo a interpretação de algumas dissonâncias, que não eram senão mensagens subversivas subtilmente endereçadas pelo cerceado Dmitri ao regime. Mas nada é tão eloquente como a própria música, que nos dá vontade de saltar daquele auditório burguês e estraçalhar tiranos e capitalistas!

Oficina de BD


"Dois amigos lutam. Um tenta esfaquear o outro, que escorrega e bate com a cabeça no chão. Esta é a proposta. Agora desenhem que depois vamos comentar."
Começou na semana em que desapareceu o grande e querido Vasco Granja (parece que o estou a ouvir, enquanto levanta voo num céu de cartolina azul e nuvens de algodão: "adeus, pequeninos!"). E segue nos próximos sábados, na companhia do Paulo Patrício, numa iniciativa em boa hora esgalhada pela Casa da Animação, aqui mesmo ao lado de casa.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Foste ao corte

A única altura em que dás conta da tua nuca, de que efectivamente ela existe lá também para ti, e não apenas no olhar dos outros, é quando te cortam o cabelo e no final te convidam a aprovar o serviço e a anuir no preço acordado. Cortas o cabelo, e é um acto tão repetido e sempre tão novo que cabe numa vida inteira. Para um homem, são dez a doze vezes por ano, numa epopeia capilar de 70 ou 80 anos. São 700 a 960 visitas a barbeiros, salões e casas de banho familiares. São o dobro disso em mãos atarefadas e de cuidados variáveis, entre cheiro a talcos e uniformes, incensos e cremes. Pensas nas vidas que passam e se contemplam no efémero reflexo, nesse arqui-inimigo do tempo que é o espelho. Pensas na doce batalha que travam com a sua auto-estima e enquanto abres a carteira, pensas em como seria mais fácil viver se todas as transacções fossem concretas e honestas como esta.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Beispiel #7


Acrílico em tela 30x40 cm

segunda-feira, 4 de maio de 2009

The Indian Clerk


É bom saber que existem prazeres a que podemos regressar. Não como um repetir um primeiro beijo, ou uma carícia nunca esquecida numa noite estival, mas algo parecido a receber o Sol na cara depois de um Inverno prolongado. A ler acontece-me. E faz-me reicindir autores como David Leavitt, desta vez às voltas com um punhado de belíssimas personagens, na Inglaterra que atravessou a 1ª Guerra Mundial. Delicioso para quem goste de História do século XX, para os adeptos da matemática (é daí que descende toda a trama) e para os que, como eu, nunca se souberam equilibrar entre os meandros da anarquia das emoções e as prescrições da lógica racionalista.

Do baú

Novas Oportunidades, velhos desesperos

Acabo por não participar nas manifs do primeiro de Maio. A inércia e cansaço de outra semana de trabalho em que o pouco que fazia sentido se esvanece faz-me procurar alternativas. Agarro-me a qualquer coisa que me ajude a não pensar em Novas Oportunidades: fazer um almoço, olhar para o céu, arrumar roupa, convidar amigos para ver um filme. Tudo, mas mesmo tudo me parece melhor do que me sentir cúmplice desta hipocrisia galopante a que tem aderido o povo, injectado de uma renovada auto-estima que enche os centros de formação, as salas de espera, as nossas cabeças, o nosso sono. Tudo é para ontem, tudo é pedir demais, tudo é complicado, tudo é despropósito quando o propósito é chegar ao olimpo dos qualificados. E hoje, no dia em que desapareceu o mítico Vasco Granja, enquanto me inscrevia numa oficina de banda desenhada, invejava a aparência de vida despreocupada da senhora que me oferecia a ficha de inscrição. E, para além do Sol e de um abraço quente, agarro-me a essa ilusão para me ajudar a ultrapassar estes dias tâo cheios de mentira. Se alguém chamar por mim, estou por ali a ver anúncios de emprego.