quarta-feira, 28 de maio de 2008

Bem vindo ao planeta nós

Agora eu era auto-suficiente. Não tinha dívidas, prestações nem compromissos. Descobria de repente que trabalhar todos os dias na mesma coisa faz mal à cabeça e escapava-me para a lua azul, o astro que, segundo revelação de uma amiga, absorve atenções e fortunas de cientistas e nações, na exploração de alternativas de habitabilidade. Consta que, aparte a ausência de gravidade (que permite às baleias nativas voarem na atmosfera e que poderia trazer alguns problemas nas arrumações domésticas do dia-a-dia), o local promete ser uma boa alternativa ao nosso planeta, esta pequena massa de beleza envolta em colapso. Mas e se a lua azul formos apenas nós em órbita de nós próprios? Conta-lhes Amélia:

domingo, 25 de maio de 2008

Biblioteca Humana: the pictures


"E foi assim, rapaziada, que eu finalmente decidi que tinha que sair do armário. Querem muito saber o que aconteceu a seguir?"

Personagens à procura de uma história # 2.2

sábado, 24 de maio de 2008

Kool Thing


Sonic Youth - "Kool Thing"

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Gay America


Muito se poderia dizer sobre as implicações da sexualidade com o que há de cultura, ideologia e mesmo economia numa sociedade. Desde Foucault até aos pós-modernos, começamos a perceber que o erotismo nunca foi apenas o animal que resta em nós. Ou se é um animal, digamos que é sempre um animal social, que age dentro de regras e estruturas que lhe pré-existem. Daí o interesse em pegar em textos como os de Gay Erotica, pequena reunião de autores da grande (pelo menos em quantidade) genealogia literária norte-americana da especialidade. São retratos de solidão e celebração, erotismo disruptivo, práticas de conjugalidade e fraternidade, em cenários urbanos e rurais, vãos de escada, docas ou penthouses, num caleidoscópio de imagens que nos devolve de forma apaixonada (e por vezes engajada) uma visão plural da sexualidade humana, essa dimensão que nos une quase tanto como nos distingue. Isso, para além de outros focos de interesse de fácil dedução e de confissão mais delicada.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Gal Legal


Em exibição em Serralves, entre muitas outras preciosidades da época do vinil (de graça aos domingos).

Freecycle/reecycle


E ao concluir 33 anos (idade fatídica para várias personalidades famosas da história popular e religiosa), decido levar mais a sério o futuro do planeta e dar azo à minha fobia pela concentração de objectos. Impulsionado por (mais) uma mudança de casa, decido inscrever-me no grupo local do Freecycle e começar a elencar os objectos que poderão ser lixo para mim, mas ouro para o próximo membro da lista, associando assim o solidário ao ecológico. Inicio a experiência com uma oferta de uma pequena colecção de singles de música pop, toda datada dos anos 80 (preciosidades que vão desde os reggay Culture Club a olvidados como os Time Bandits ou o Nick Kershaw). A resposta foi impressionante: quase quarenta pedidos de aficionados da modalidade, só na zona do Porto. Escolhi o primeiro e pedi desculpa aos restantes. Prolongar a história dos objectos. Regressar à troca directa. Tá aí.

sábado, 17 de maio de 2008

Personagens à procura de uma história # 2.1

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Educação Queer?


Pensar Queer: sexualidade, cultura e educação, podia ter sido o título de uma tese de mestrado que um dia decidi deixar de lado (com toda a pomposidade implicada e evitada). Em vez disso, trata-se aqui da compilação de alguns textos em torno das temáticas identificadas no título, numa tradução para português de ensaios norte-americanos. É aí, essencialmente, que peca o livro, pelo apelo constante a uma realidade que nos é de certa forma alheia. Podemos reflectir e pensar como estes instrumentos - a queeridade, a diversidade afectiva, a sexualidade disruptiva - nos podem ajudar a pensar o nosso contexto escolar (e outros contextos educativos), mas de facto estamos muito longe do contributo que uma Judith Butler (que estará entre nós em Outubro, a pretexto das conferências de Serralves) poderia trazer com um simples capítulo das suas complexas e holísticas teses sobre as relações entre a política e a identidade sexual. Ainda assim, trata-se de uma abordagem difícil (ou impossível) de encontrar no nosso contexto editorial, e prova mais uma vez que o enfoque queer é capaz de pensar num contexto específico (neste caso, o ensino formal), explicando-o a partir da sua envolvente cultural, social ou económica. Só isso, nao obstante todas as críticas que possam ser feitas, já serviria para refrescar a discussão sobre a direcção das políticas educativas.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Um cavalo na noite

Foi bom ser um livro humano. Os miúdos ficam curiosos com o que uma pessoa de carne e osso possa ter para lhes contar sobre o que é ser-se homossexual, como é sair do armário ou como se lida com os insultos. E supreendem-se com a naturalidade com que os livros humanos se contam. É uma ajuda, espero, para que ultrapassem preconceitos que herdaram de outras gerações. No dia seguinte à iniciativa, participei numa tertúlia em Aveiro, promovida pelo núcleo local da Amnistia Internacional, a pretexto do 17 de Maio, o Dia Mundial de Luta Contra a Homofobia. Pouca gente para uma conversa que até se revelou estimulante. O regresso tardio levou-me de encontro a uma imagem insólita: um cavalo corria desenfreado pela auto-estrada, de encontro aos automóveis, apenas visível em ápices iluminados pelos faróis. Perseguia-o um homem com uma espécie de corda na mão, destemido e indiferente ao perigo. Liguei ao 112 e ao relatar o que tinha visto, ponderava se me levariam a sério.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Santogold, political beat?

A banda sonora de um espírito renovado de militância de século XXI responde pelo nome de Santogold, com um bombástico primeiro álbum homónimo que me tem feito despertar paixões de adolescência. "If I could stand up mean for all the things that I believe..."

Livro humano

A semana começa com um novo desafio. A pedido da rede ex aequo, participo numa Biblioteca Humana sobre diversidade e interculturalidade em Paços de Ferreira. A ideia é servir de 'livro humano' (o que me fez lembrar logo o final do Farenheit 451; aqui, contudo, não há Irmãos Karamasov ou Madames Bovary, apenas a nossa singela história de vida). O meu tema central é a orientação sexual. Vou estar com pequenos grupos de adolescentes e estou curioso com a iniciativa. Espero não ser deixado na prateleira e poder voltar com novidades sobre o assunto.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Eu e o Indie


Um ciclo de cinema alternativo, extensão de um festival jovem mas com reputação firmada - Indie Lisboa - é sempre uma iniciativa de saudar numa cidade como o Porto. Cinema alternativo significa êxodo da imagética dominante. O filme solicitava algum espírito de abertura: "The heroe never dies", rezava o folheto, retratava uma história de gangsters. E lets face it, isso é algo que com Scorsese aprendemos a amar e que aprendemos a odiar, em dois momentos diferentes e conclusivos. E o filme cumpriu a sua profecia: uma história de masculinidade hiperbolizada, violência gráfica e sem narrativa, uma histeria visual de difícil digestão, que me deu vontade de espancar críticos, como naquela cena em que o Nanni Moretti torturava o autor de uma crónica apologista de "Henry, o retrato de um assassino", obrigando-o a ouvir o seu próprio texto. Mas no final compensou. Era a reabertura simbólica de uma sala de cinema no Porto (o Trindade, sala histórica encerrada há quase uma década), e a oportunidade para respirar de novo o cheiro da cinefilia na invicta. Era um fedor de mofo, é certo, mas soube por mil sessões assépticas de multiplex.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Estudo para nú: o desejo # 2

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Nefés - ein stück von Pina Bausch


Há um problema em ver algo tão bom como uma peça de Pina Bausch. É que os nossos padrões ficam tão elevados que depois dificilmente encontramos algo que nos encha as medidas (e não estou a falar estritamente do mundo da dança). O que presenciamos com ela é algo que também nos transforma um pouco, uma experiência total que nos envolve como um manto de magia. Há algo de muito verdadeiro na forma como ela nos mostra a imbricação da dor e do amor, da alegria e dos nocturnos profundos do nosso ser. Nefés, "respiração" numa das línguas da cosmopolita Istambul, a urbe inspiradora deste trabalho. Das vozes, cores, odores, atitudes e outras impressões recolhidas pela companhia, a sábia batuta de Bausch retem o essencial para fazer disparar o motor criativo, filtrando-o com as suas obsessões de sempre, os gestos e os corpos que adoramos revisitar e que nos tocam de forma incisiva, como se a alma fosse uma substância universal.

Canção para uma quarta-feira cinzenta