quinta-feira, 10 de julho de 2008

O ano do pensamento mágico


Durante um ano, uma vida muda. Transmuda-se, como se, através de um oculto mecanismo de carrossel, as almas fossem trocando de corpos a cada sinal. Nesse movimento, as referências alteram-se. O mundo, observado de um outro ângulo, parece de início turvo, mas com o tempo torna-se claro e distinto. Para trás ficam destroços, pedaços de quem eramos. A rotação faz-nos ceder e procuramos refúgios. E a vida é retomada. Joan Didion viu o companheiro de quarenta anos falecer à sua frente. Durante um ano, agarrou-se através da escrita à desorientação da sua perda. O resultado é um livro. Decidiu chamar-lhe o ano do pensamento mágico, porque durante esse tempo suspendeu-se sobre a realidade, revivendo de forma elíptica o fatídico acontecimento. Lemos e pensamos sobre como se sobrevive quando o sentido da vida desaparece dentro de um saco preto, numa gaveta fria e anónima de uma morgue hospitalar. Pensar assim pode ser uma forma de fazer refresh na nossa colecção de metas e princípios pessoais.