sábado, 7 de março de 2009

Career Girls, de Mike Leigh


Às vezes é com pequenos filmes que nos lembramos como é bom gostar de cinema. Este, por exemplo, de que praticamente não reza a história, vi-o em Turim, há uns onze anitos atrás. Relata de forma simples o reencontro de duas amigas depois de alguns anos de afastamento, e alterna entre esse presente e o passado em sketchs ordenados de forma afectiva, de acordo com um dispositivo narrativo relativamente convencional (e talvez por isso mais difícil de levar a cabo de forma eficiente). Há aqui uma generosidade e frescura tão grande nas actrizes (de resto, algo comum nos filmes de Mike Leigh), apoiada em diálogos e situações tão cómicas como comoventes, que é impossível não ficar emocionado durante os dias seguintes, e com vontade de ouvir de novo todo o reportório dos The Cure até ao crucial "Head on the door". E tudo se passa em Londres, prolongando o eco da viagem recente e trazendo à memória a visão fugaz de dois rapazes imberbes num banco do Hyde Park, a abrir com ar curioso uma mochila e a tirar de lá o vinil de "The rize and fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars". Não resisti a sussurar ao passar: "Pssst! To be played at maximum volume..."