segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Entre paredes


"Entre le murs", o título original do texto traduzido em português para "A Turma", indicava com mais eficácia a atmosfera concentrada (quase concentracionária, nalguns momentos) da narrativa. Tudo se passa dentro do recinto de uma escola, sendo o texto em boa medida constituído por diálogos (que remetem facilmente para uma ideia cinematográfica, não é por acaso que o livro sofreu uma adaptação em filme, que inclui como protagonista o próprio escritor, François Bégeaudou). Assim temos uma visão polifónica da escola, com um ping-pong recidivo entre dois agentes essenciais: o professor e os alunos (a espaços surgem também alguns pais, a figura do director e, que me recorde, os auxiliares estão ausentes). Não é uma obra literária, no sentido da fruição estética ou intelectual do verbo, mas pode ser interessante enquanto tentativa de retrato da realidade escolar actual e é fácil estabelecer links com o universo português; a apresentação dos personagens é eloquente nesse sentido: veja-se a rapariga 'central telefónica', as frases-slogan americano estampadas nas t'shirts, o desinteresse generalizado pelo programa em detrimento da jornada desportiva, o jargão utilizado ou o colorido multiétnico da própria turma. Vou oferecer à mana, que já tem calo como stôra desta malta (depois também marcamos para ver o filme, tá? O cunhado fica com as miúdas).