terça-feira, 21 de outubro de 2008

Judith, a sábia


Em Serralves, o ciclo de conferências "Crítica do Contemporâneo" trouxe ao Porto uma das vozes mais estimulantes da produção intelectual norte-americana - Judith Butler. Saindo do âmbito que a tornou célebre - o das questões de género e da produção queer - Judith, pequena e andrógina, com uma dicção e entoação cativantes, brindou a audiência com uma reflexão desconcertante acerca da precariedade da condição humana nos tempos actuais, utilizando os mesmos parâmetros com que de forma tão brilhante tinha desconstruído o género enquanto elaboração social: a dúvida metódica, o questionamento compulsivo e o enfoque às sombras da identidade social. Desta vez, o mote incidiu sobre a expressão pública da dor: quem choramos e de que forma? Parece uma interrogação estranha, mas Butler prova por A+B que não há inocentes nesta matéria tão demonstrativa de agendas políticas, e dá como exemplos comparativos os soldados mortos em campanha de guerra no Iraque e os prisioneiros torturados de Abu Grahib. No final, recitou excertos de poemas escritos por prisioneiros de Guantanamo. Eles demonstram, diz-nos ela, a possibilidade de subversão, antes de tudo discursiva, que permite ao sujeito tornar-se socialmente perceptível, mesmo em condições de total subjugação física e moral.