terça-feira, 18 de maio de 2010

Intolerância

Como uma nuvem de cinzas vulcânicas que se apodera de um céu azul, sem que ninguém se aperceba, algo toma conta de mim de tempos a tempos. Por dever social ou profissional, confronto-me diariamente com situações em que, de uma forma mais ou menos profunda, sou obrigado a reprimir amargamente o meu incómodo. Reconheço que a minha bitola nem sempre é sociologicamente equilibrada: desprezo no mesmo grau líderes religiosos que incentivam o ódio pela diferença e o abandono do preservativo; condutores de automóveis que tomam conta da estrada de forma assassina; racistas camuflados de benfeitores e pacifistas; assistentes sociais que humilham aqueles que assistem; académicos de ego pesado e cabeça vazia. Na esmagadadora maioria das vezes, estou sozinho na minha indignação e raramente me dou ao trabalho, agora, de a explicar (é que também cansa ser ave rara). Há momentos, porém, em que vergo à minha incapacidade em lidar com a ignorância e a prepotência do universo. E percebo, da pior forma, que também eu aprendi bem a lição dos mestres da intolerância. Ou será aquele nó no estômago apenas um sinal de que preciso de férias?