segunda-feira, 12 de julho de 2010

Meter-se em trabalhos

Dizem que verbalizar ajuda a organizar, a identificar problemas e a encontrar estratégias para os ultrapassar. Ultimamente, infelizmente, só consigo verbalizar queixumes, e parece-me que assim só consigo escurecer o que me rodeia (e sobretudo os que me rodeiam) com o negrume que se abateu em mim nos últimos tempos. Motivos? Há-os sempre, se quisermos; acredito que o que varia é a nossa resistência à adversidade e especialmente o olhar que lançamos sobre o mundo. Sou capaz, contudo, de descortinar um foco 'infeccioso' desta espécie de angústia melancólica: o meu trabalho. Dou voltas e voltas mas por muita imaginação e alternativas que procure, não consigo apagar esta descrença estrutural num programa que perdeu há vários anos o potencial inicial. Participo em iniciativas, falo com candidatos, debato (cada vez menos) com os colegas, mas tudo parece contribuir para aumentar a reverberação de uma palavra que ecoa com cada vez mais força na minha cabeça: hipocrisia. Na era das novas oportunidades, tudo está bem desde que não se levantem ondas (quem já tentou negociar uma certificação parcial sabe do que estou a falar). Desse implícito colectivo rumaremos felizes, ignorantes de ego insuflado, para a Europa civilizada. A cumplicidade paga as contas, a cumplicidade certifica, a cumplicidade emprega, a cumplicidade compensa. Traz os mundos e fundos que promete como garantia de felicidade imediata. Mas também corrói, mina o terreno da criatividade, da perseverança, do empreendedorismo, premeia a vigarice e a espertalhice saloia em detrimento desses 'entediantes' princípios que são a honestidade e a justiça social. Procura-se, portanto, um novo olhar ou um novo emprego.