sexta-feira, 23 de julho de 2010

Senhora ministra


Vi-a ao vivo há dias a louvar a iniciativa, a tal que fala das oportunidades para todos. A seguir a si falou o primeiro, no tom oco dos primeiros. Gostava de lhe apresentar um senhor. O sr. x é um funcionário da nossa autarquia. Se desempenha o cargo com brio desconhecemos. Só conhecemos o seu percurso na iniciativa: há uns anos (poucos) atrás, pediu transferência para o nosso centro. Trazia no currículo a 4ª classe e uma validação parcial do 6ºano através do famoso processo de reconhecimento e validação de competências. Louvamos-lhe o esforço, disponibilizamos-lhe alguma formação e a custo e com muita boa vontade lá lhe completamos o 2º ciclo, apesar da tenacidade da figura, que invocou santos e altas patentes políticas para que lhe concedêssemos o 9º (recordo que chegamos a ter a honra da visita da mãe do senhor presidente a interceder a seu favor). Como nestas coisas gostamos de ser colaboradores e transparentes, dissemos-lhe que nada feito, e que passasse bem. Por portas travessas, descobrimos recentemente que a esposa do senhor era nossa cliente, quando no seu portefólio, entre fotos de baptizados e comunhões, nos apareceu aquela cara familiar. Prontificou-se a esclarecer que ele já tinha nesta altura completado o 12º ano sob os auspícios de tão inovadora modalidade que o ministério da educação em boa hora decidiu assumir como sua. Consultando o seu cadastro, concluímos que tinha passado por nada menos do que 4 (quatro!) processos de RVC. Pondo de parte a capacidade empreendedora do senhor x, reconhecemos admirados a infinita flexibilidade de um sistema que assim sim, pudemos considerar rápido, eficaz e indolor. Mas, senhora ministra, apesar da eloquência da sua intervenção, não a ouvi dizer que entre os valores que este governo mais preza estavam a sacanice e a mentira. É que só assim poderíamos vislumbrar uma coerência entre os fins e os meios e erguer as mãos para um aplauso merecido.