terça-feira, 16 de novembro de 2010

"Lola", de Brillante Mendoza


Eis um filme que dá que pensar, não só pelo que ele é intrinsecamente mas pelo que nos diz do estado actual do cinema. Em primeiro lugar, o privilégio que é, nos dias que correm, dominados pela lógica esmagadora 'pipoca+acção+coca-cola+arroto' do circuito comercial, ver um filme de origem filipina. Essa condição de privilégio e raridade explica, quanto a mim, o segundo ponto: o do exacerbado estatuto adquirido pelo realizador (pelo menos a avaliar por este filme, o único que vi) e todo o hype bem-pensante que o rodeia. Finalmente, há o filme em si, um simpático mas limitado (não apenas, obviamente, no sentido dos recursos) objecto cinematográfico, que tem como mais valias duas bravas protagonistas geriátricas (as 'lolas', do título) com quem sofremos do princípio ao fim, para além da curiosidade antropológica do retrato documental de uma Manila miserável, caótica e aquática. Como fragilidades, para mim, um argumento hesitante (aquela da avó aceitar o dinheiro em troca da absolvição do assassino do neto tem que se lhe diga...) e esta pretensão um bocado irritante de fazer passar um filme pela realidade tal como ela é (que tem, como supra-sumos os irmãos Dardenne, criadores de verdadeiras pérolas do cinema de terror). A ver, apesar de tudo (mas sobretudo porque são os tempos que são).