segunda-feira, 31 de maio de 2010

Em contagem decrescente...

... para um percurso reincidente.

domingo, 30 de maio de 2010

"Diários da bicicleta", de David Byrne

Concluo, no mesmo dia em que reincido na bicicleta completando o circuito casa-praia da Madalena (sem desmaios!), o livro que recolhe uma série de reflexões e impressões de David Byrne (músico, artista plástico e, entre outras coisas, uma talking head) nas suas viagens sobre duas rodas. O olhar do autor aponta para múltiplas direcções: desde grandes temas como as políticas urbanísticas, os totalitarismos ou a plasticidade das linguagens artísticas e sociais, até recomendações mais prosaicas sobre segurança na estrada ou indumentárias confortáveis. Sempre com um tom irónico e inteligente (nunca maçador), suficientemente apaixonado para nos fazer ter vontade de visitar aquelas cidades e, sobretudo, encarar a 'ciclo-mobilidade' como parte da solução nas estratégias de desenvolvimento para um futuro muito próximo.

sábado, 29 de maio de 2010

"França"


A nova vaga de desenhos da sobrinha mais velha já reflecte a entrada numa etapa de vida diferente (hoje em dia cunhada de pré-adolescência). Quanto a mim, continua-me a parecer que tudo o que é feito 'fora' da alçada escolar lhes sai mais imaginativo e pessoal (mesmo quando deixa transparecer a influência dos desenhos animados, revistas de moda ou publicidade: mas não é o desenho um filtro expressivo do que nos rodeia?).

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Pedalar ou morrer

Homem que é homem não gosta de dar o braço a torcer, não é o que dizem? Pois foi o que eu pensei, em cima de uma bicicleta e a meio de uma senhora subida na viagem experimental do circuito casa-trabalho. Queria perceber quanto tempo demorava e a viabilidade 'física' da empreitada, recorrendo ao empréstimo da 'máquina' da irmã. Resultado: uma quebra de tensão e um desmaio espectacular, mesmo à entrada do edifício (eu cá não faço por menos, os meus desmaios possuem o estranho hábito de ser estrondosos). Colegas, formandos, auxiliares, porteiro, cozinheira, motorista e curiosos rodeavam-me quando despertei os sentidos, momentos antes de me levarem ao hospital para uma verificação mais exaustiva (que dispensei após duas horas e meia de espera infrutífera). Conhecendo o povo do meu trabalho, já sei que a história vai circular durante as próximas décadas sempre que me virem a aproximar com uma bicla. Mas serão um pequeno susto e o escárnio popular capazes de demover a vontade de um homem?

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Erupções islandesas numa quinta-feira às 16:15


Vídeo de Michel Gondry

terça-feira, 25 de maio de 2010

Teatro aprisionado


«ENTRADO – gíria prisional que se refere ao indivíduo que acaba de entrar na prisão. Pelas palavras dos actores: “ o acabado de chegar”, “o que não se pode esticar naquilo que diz”, “ o que está sempre à espera”, “o que tem que marcar território”.»
Mais informações aqui.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Há 3 dias...

... a ouvir açoreanos em casa, começo de novo a mergulhar na maresia destas palavras. Gosto da maneira como o meu sogro diz à nossa beira, a olhar para a televisão - "aquilo é um homem lindo!" - como se quisesse mostrar-nos a sua aprovação. Ou a maneira como a sogra se entusiasma a dar-me dicas de culinária, comida rápida e ligeira para esta vida moderna, vivida por famílias modernas.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Acamado


Uma corrida sob um Sol abrasador, seguida de um dia inteiro exposto a ventoinhas no local de trabalho. Resultado? Uma amigdalite e uma nova dose de drogas prescritas, na véspera da chegada dos sogros para uma estadia semanal. Dois dias sem sair de casa e com a febre a consumir-me o juízo fazem-me pensar na impotência e dependência de uma pessoa debilitada, para quem, por exemplo, pegar num talher ou mastigar parecem um dos doze trabalhos de Hércules.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

À conversa com ...


Para um homem das ciências sociais, é refrescante perspectivar a vida humana (incluindo a vida social) sob a escala pulverizadora das ciências duras. Tudo pode ser relativizado perante a constatação de que nós, os humanos, somos apenas novatos nestas andanças da vida. Falem com as bactérias: elas sim, são umas senhoras com milhares de milhões de anos de experiências, e muitos outros milhões por cá andarão depois de passarmos a ser uma vaga recordação na história da vida (a última gota da última grande onda do imenso oceano que é a história do universo).

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Bike appeal...

terça-feira, 18 de maio de 2010

Intolerância

Como uma nuvem de cinzas vulcânicas que se apodera de um céu azul, sem que ninguém se aperceba, algo toma conta de mim de tempos a tempos. Por dever social ou profissional, confronto-me diariamente com situações em que, de uma forma mais ou menos profunda, sou obrigado a reprimir amargamente o meu incómodo. Reconheço que a minha bitola nem sempre é sociologicamente equilibrada: desprezo no mesmo grau líderes religiosos que incentivam o ódio pela diferença e o abandono do preservativo; condutores de automóveis que tomam conta da estrada de forma assassina; racistas camuflados de benfeitores e pacifistas; assistentes sociais que humilham aqueles que assistem; académicos de ego pesado e cabeça vazia. Na esmagadadora maioria das vezes, estou sozinho na minha indignação e raramente me dou ao trabalho, agora, de a explicar (é que também cansa ser ave rara). Há momentos, porém, em que vergo à minha incapacidade em lidar com a ignorância e a prepotência do universo. E percebo, da pior forma, que também eu aprendi bem a lição dos mestres da intolerância. Ou será aquele nó no estômago apenas um sinal de que preciso de férias?

segunda-feira, 17 de maio de 2010

17 DE MAIO

No dia Mundial de Luta Contra a Homofobia (saberia disto?), um presidente da república homofóbico promulga a lei da igualdade no acesso ao casamento civil, cedendo assim ao resultado natural de um amadurecimento público e político da questão, o culminar de um trabalho duro que levou anos e que recebeu mais murros que empurrões. O impacto? Só o tempo o dirá. Mas já a partir de hoje, nos lares deste nosso portugalito ensimesmado e conservador, o efeito adivinho-o como a abertura de uma janela que vem refrescar um ar pesado de muquifo (expressão querida cá em casa) e iluminar o rosto de muitos homens e mulheres que tiveram que aprender a viver no escuro desde que o mundo lhes disse que a sua condição era a de ser errante e aberrante. Imagino também pais, familiares, amigos e colegas a parar um momento, a deixar esse momento pousar nas suas cabeças e a ligar aos seus filhos, amigos, tios e colegas para os felicitar. Também vislumbro um retorno da escuridão como onda de choque e ainda há muita coisa a fazer, mas já estamos mais preparados, com os pulmões oxigenados e a vontade indómita.

domingo, 16 de maio de 2010

Bike atitude

Hoje comprei um livro: "Diário da Bicicleta", do David Byrne (sim, o ex-vocalista dos Talking Heads). Pelo que me apercebi, parte do pretexto das suas deambulações diárias em cima de uma bicicleta para um conjunto de divagações mentais e comentários sobre a vida nas cidades. Em casa, pesquisando 'bicicleta'+'Porto' deparei-me com um movimento relativamente recente e organizado de adeptos deste meio de transporte (o mais utilizado em todo o mundo, apesar de tudo), numa cidade onde sempre perspectivei como impossível a circulação em duas rodas. E é verdade que os obstáculos existem: a inexistência quase total de ciclovias e estruturas para 'prender' as biclas, a hostilidade do trânsito automóvel e a geografia acidental são apenas alguns dos mais significativos. E contudo, há muitas coisas irresistivelmente sedutoras nesta proposta: a possibilidade de escapar ao stress automóvel, o exercício físico e descontracção mental, o contributo ambiental ou o factor económico estão entre os mais significativos. O que falta então? Uma resolução e uma bicicleta! Para começar, o compromisso com um test drive na duas-rodas da mana, que gentilmente anuiu num empréstimo temporário. Conclusões em breve. Comentários e propostas de modelos aceitam-se!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Tios de fim de semana


Ele há maior privilégio do que ter duas sobrinhas maravilhosas durante um fim de semana em casa? É uma oportunidade para: pôr brincadeiras em dia; esquecermos-nos do que é ser adulto, enquanto se faz de conta que se é; ler histórias de embalar, cujo interregno é decretado pelo sono merecido de um, dois ou mais intervenientes; mergulhar na piscina e baldar-se às instruções do professor (tentando no caminho ignorar o seu charme evidente); percorrer a beira-mar, visitar Serralves, aprender e ensinar a fazer sapos em papel; aldrabar as regras de todos os jogos que entretanto finalmente saíram do armário (engraçado, esta expressão quase perdeu o sentido literal original...); gerir um pequeno batalhão de colaboradores na cozinha, esse universo tão lúdico e tão pedagógico que se eu mandasse fazia parte de todos os currículos escolares; suspirar fundo, esboçar um sorriso e arrumar os fatos de tios no armário (de novo!), ansiosos por uma próxima oportunidade.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Problemas de digestão na semana papal

Nestes dias de delírios espirituais (mas pouco espirituosos), só dá mesmo vontade de mandar tudo à merda e cometer uma mão cheia de pecados. Por exemplo, invocar o nome do dito cujo em vão durante uma sessão de pornografia homossexual. Se formos muitos, talvez algo neste país entre em combustão herética e as pessoas acordem, por exemplo, para os problemas que realmente afectam a nossa vida terrena.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Amigo é...

Um gajo encontra-se com um amigo. Repara como é raro encontrar-se assim, sem horário nem ordem de trabalhos, sem agendas, metas, discursos programados nem papel estudado. E com um amigo. Um gajo vai jantar, por exemplo, um belo polvo grelhado com batatas a murro, regado com vinho branco. As palavras desfiam o rosário de maleitas e caem no prato, são cortadas, mastigadas e engolidas. Saem outras palavras, mais limpas e arejadas. Segue-se mais um copo, e com o pudim abade de priscos engole-se o amor, o trabalho e a tragédia da vida. Digere-se tudo com um cigarro, até que com o fumo uma luz sai de dentro e entra-se em estado corporal de amizade. Não há dúvidas, um gajo precisa de fazer isto mais vezes.