quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Alma tuga

Andamos todos à procura de um lugar no céu. É isso que nos move neste portugalito moderno e antigo: a culpa, essa espécie de consciência adquirida à má fé. A verdade seja dita: só funcionamos à ameaça, seja ela de um pontapé, cachaço, lambada ou desgraça da alma. E não importa muito se somos crentes ou ateus, a matriz moral está lá, como uma tatuagem ou um tecido nervoso que nos baliza o quotidiano. E assim vamos, transitando de um objecto de culpa para outro: da infidelidade para a responsabilidade ecológica; da soberba para a participação cívica. Inventamos novos pecados: o trabalho infantil; o sexo desprotegido; a toxicodependência; o desperdício. E fugimos deles, não graças a uma clarividência ética ou pelo anseio de nos envolvermos num projecto de comunidade global, mas do muito humano e muito prosaico medo judaico-cristão de cair no inferno, tenha ele o formato que cada um lhe queira dar. Eu por mim, ainda assim, temo aqueles que nada temem, por me parecer que se eles tomarem conta disto, nada nos vai separar do abismo. E aquilo que era uma hipótese de país, deixa de o ser.