segunda-feira, 23 de agosto de 2010

French fries

Num engarrafamento de Agosto, da neura domingueira nasceu em conversa com amigos esta ideia: não devíamos ter direito a ser ressarcidos por este desperdício de tempo? Algo como uma compensação depois do tempo regulamentar num jogo de futebol, todas as horas perdidas em filas de trânsito, somadas e devolvidas à nossa vida. "Ora portanto, o senhor Francisco devia ter falecido agora, mas como temos aqui um crédito de 2 anos e meio, vai ficar pela terra mais uns tempitos". Ideia pertinente mas perniciosa: a quem compete definir o que é o tempo desperdiçado quando a nossa própria vontade é tão volátil? Nunca vos aconteceu dourar o passado (mesmo as coisas que na altura não causaram qualquer frisson) ou maldizer uma experiência inofensiva cujo lado negro acabou por emergir anos depois? Não é um bocado aquela conversa do: "e se eu tivesse feito isto", "e se eu não me metesse naquilo", numa auto-ilusão de que qualquer caminho alternativo seria sempre mais bem sucedido, mais aproveitado, rumo à felicidade e à realização pessoal? A verdade é que esses caminhos são, como li algures, ramos secos que não voltam a medrar. E, como numa canção recente dos Arcade Fire, se pudéssemos reaver o tempo morto, íamos matá-lo de novo. Mas já repararam que as batatas fritas são sempre mais apetecíveis no prato do lado?