terça-feira, 4 de dezembro de 2007

As travessuras de um escritor


Ao escritor peruano Mario Vargas Llosa, de quem lera o divertido 'A tia Júlia e o escrevedor' (parece que há uma versão no cinema com uma das minhas actrizes favoritas, a Barbara Hershey), reconheço a mestria no equilíbrio delicado entre a profundidade dos temas e a leveza aparente do texto. Agora, com 'As travessuras da menina má', consegue envolver-nos numa exuberante intriga amorosa que atravessa várias décadas, e a pretexto da qual se lança um olhar sobre o percurso histórico recente do próprio Peru (com ênfase nos seus contrastes sociais) e da Europa ocidental, detendo-se sobretudo no quotidiano de grandes urbes como Paris, Londres e ainda Madrid. O discurso, em tom confessional, é colocado na primeira pessoa, e não deixamos de pressentir ali uma forte imbricação com o percurso biográfico do próprio escritor, que já experimentara o registo da mélange autobiografia/ficção noutros textos (aparentemente, chegou mesmo a casar-se com a sua tia Júlia, e as incursões no mundo político - concorreu à presidência, perdendo contra Fujimori - reflectem-se em vários apontamentos no texto). Horas de leitura bem passada, e um bom aperitivo para a muito breve incursão parisiense...