sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Parque paranóia


Regresso às emoções aventureiras das idas solitárias ao cinema. Faço o meu filme privado enquanto aguardo pelo início da projecção e aproprio-me ao meu ritmo das imagens no grande ecrã. Desta feita, Paranoid Park, de um Gus van Saint capaz de algumas surpresas intermitentes. O ritmo do filme cola-se adequadamente ao sonambolismo próprio de uma certa adolescência, não como algo que a define, mas como um dos registos que caracterizam uma certa indiferença perante o mundo e o próprio futuro, um estado blasé mas sem o subtexto intelectual. Há momentos e planos - os travelings em câmara lenta a acompanhar os skaters nas suas manobras ou os grandes planos dos jovens - imbuídos de grande poesia visual. Consegue-se o equilíbrio perfeito entre a ausência de mensagem (no sentido político ou pedagógico do documentário tradicional sobre a juventudo desprovida de valores) e o tom intimista e confessional que é o do diálogo interior do protagonista, sem outra ordem aparente para além da que lhe é ditada pela dinâmica emocional da narrativa. Um pequeno achado, a ver (e ouvir) sem preconceitos.