sábado, 29 de dezembro de 2007

Shenzen - diário de bordo


O Natal afinal até tem coisas boas. Pelo menos serve de pretexto para rever amizades antigas como a nossa consciência. Recebo de uma delas todos os anos por esta altura um livro em italiano. É um idioma dentro do qual partilhamos memórias e travessuras, e gosto de o recordar desta forma. Desta vez, uma BD: Shenzhen, do canadense Guy Delisle. É basicamente o registo em banda desenhada do quotidiano do próprio autor, contado na primeira pessoa, de uma estadia de 3 meses nesta cidade chinesa, onde acompanhava a execução de uma animação para um canal francês (voilá, a globalização). Não há nada de extraordinário no relato, a não ser o confronto de um homem com a sua solidão cultural, e as dissertações, por vezes irónicas, por vezes carinhosas, acerca dos contrastes experimentados: a gastronomia, os horários, as viagens, as formalidades laborais e sociais, etc. O estilo é simples, mas eficaz, e funciona verdadeiramente como uma partilha. Senti-me imediatamente atraído por aquela necessidade de comunicar, numa situação de isolamento, sem recorrer à palavra, esse meio tão escorregadio e carente de versatilidade em certos momentos. Dá que pensar. Nota mental: não esquecer o moleskine.