quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Adeus, magnólias

No dia em que me decido a entrar na loja ao lado do meu prédio, dou de caras com uma cara familiar. Desde os meus 17 anos, quando deixei de a ver, tenho-a entrevisto numerosas vezes em autocarros, cinemas, jardins ou nas ruas, sem nunca ter a certeza daquele corpo lhe corresponder. A minha primeira namorada, é assim que se diz e é estranho agora, com tanto tempo e mudanças pelo meio. A minha primeira namorada, dizia, trabalha na porta ao lado. Reconheceu-me logo e abraçou-se a mim com força suficiente para me sentir embaraçado. Perguntou por mim, que é feito, e repliquei gentilmente as perguntas, intrigado com a densidade da imagem à minha frente. Decidiu mostrar-me a fotografia da filha, de 3 anos. Tão linda, mimei-a. E pousei o produto na mesa, para que pudesse apreçar. "São nove euros e 15 cêntimos, se faz favor", disse num tom mecanizado, como se tivesse de repente entrado o patrão. Paguei e despedimo-nos com sorrisos. A minha primeira amante vendeu-me o meu primeiro creme anti-fadiga para o contorno dos olhos. Ponderei no sentido de ironia da matemática probabilística.