quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O belo redundante


Há qualquer coisa que simultaneamente me atrai e me deixa desconfiado relativamente a esta geração de realizadores que inclui "wonder kids" como Wes Anderson, Spike Jonze ou Sofia Coppola. Tomo como exemplo "Darjeeling Limited", a sucessor de "A vida aquática de Steve Zazou" ou "Os Tannembaums", todos realizados por Wes Anderson. A premissa é a mesma dos anteriores: família em desagregação, unidades em órbita à procura de um reequilíbrio e redenção afectiva. Apanhamos 3 irmãos em périplo espiritual pela Índia (ou por uma Índia da cabeça de Wes), à procura da mãe, refugiada há anos num templo isolado, um ano após a morte do pai. Não nego que algo me atrai no despreendimento e aparente leveza de tom, assim como no embrulho visual, mais uma vez cuidadosamente eficaz. Mas há momentos em que realmente acredito que a leveza se torna leviandade, e o filme roça perigosamente o chauvinismo e a inconsequência. Exemplo: no reencontro com a mãe, esta propõe um diálogo não verbal. Nada mais adequado a um filme onde as palavras se aproximam do redundante. E rejubilei: o olhar sábio e ambíguo de Angelica Huston com os 3 rapazes facilmente se poderia transformar num update das célebres sequências dos western spaghetti de Sergio Leone, agora à disposição de um contexto quase bergmaniano. Mas não, temos um grande plano, a câmara que roda (movimento recorrente em todo o filme, nem sempre com eficácia), e zap, passamos à sequência seguinte. Noutra cena, assistimos aos irmãos reunidos, em pose meditativa. Ouve-se em fundo a "Pavane pour une infante défunte", de Ravel. Algumas cenas depois, uma criança morre após uma tentativa falhada de socorro por um dos protagonistas. E perguntei-me: foi propositado? Ou apenas mais uma inócua seleção estética? O decorativo está assim tão próximo do trágico?