quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Teremos sempre as camélias

E pronto, é oficial. Os papás mudam-se de vez da Rua das Camélias. Foi lá que nasci, pois foi lá que cresci. Só saí aos 22 anos, e para dois ou três países ao lado, não fosse a nostalgia agarrar-me com a sua tenaz. Regressei aos 23, voltei a sair aos 26 e ainda lá pernoitei dois meses no ano passado. Era assim como uma espécie de cais a que se regressa, quando a tormenta nos faz vacilar. Se a cidade fosse um corpo de mulher, as Camélias seriam o seu ventre, um colo onde repousava a cabeça e afastava os meus demónios. Um apartamento banal, dos anos 70, à medida da nossa estatura. No novo apartamento, junto à praia, high tech e open space, os papás ficam mais pequenos, recortados pelas grandes janelas e pelo vazio das paredes. Já levaram móveis, louças, tarecos e roupas, mas não encontraram quem lhes levasse as recordações.